sábado, 18 de setembro de 2010

O DJ que faz mais sucesso no mundo

Como o compositor de trilhas sonoras Tim Westergren transformou o Pandora – a rádio on-line que entende seu gosto – num negócio inovador, ético e lucrativo


DANIELLA CORNACHIONE
NO CELULARTim Westergren no arquivo de CDs que alimenta o Pandora. Ele passou a ganhar dinheiro quando lançou versão para o iPhone

Tim Westergren é o DJ mais bem-sucedido do mundo. Ele sabe o que quer ouvir cada um dos 60 milhões de ouvintes de sua rádio na internet, o site Pandora. Mais que isso, ele conseguiu um feito raro no meio digital: transformou um site baseado apenas na difusão de conteúdo em um negócio lucrativo e ético, ao remunerar os músicos. O Pandora não é a única rádio on-line que faz recomendações ao ouvinte. Mas, enquanto as demais prometem tocar só o que ele gosta de ouvir – e acabam invariavelmente agrupando as faixas por estilo, como heavy metal, jazz latino ou anos 80 –, a invenção de Westergren tem uma característica especial: consegue surpreender o ouvinte com músicas de outros estilos que têm chance de agradá-lo.
Para sugerir suas músicas, o Pandora conta com uma equipe de músicos e com um inovador sistema de computador, que classifica as faixas a partir de fórmulas capazes de identificar o gosto de cada um. Esse sistema avalia matematicamente a estrutura interna de cada canção. Melodia, tom e letra são algumas características. Esse estratagema do Pandora, chamado Projeto Genoma Musical, tem a ver com a personalidade de Westergren, um músico criativo e ligado em tecnologia.
Hoje com 44 anos, Westergren idealizou o Genoma Musical no final dos anos 1990, quando estudava o uso da tecnologia na música na Universidade Stanford, na Califórnia, e compunha trilhas sonoras para filmes. Ele diz que sofria para entender o que os diretores de cinema queriam. “Os cineastas não tinham formação musical, por isso acabavam exprimindo seus desejos de forma subjetiva”, afirma. Foi aí que pensou em traduzir essas opiniões subjetivas por meio de características musicais que pudessem ser medidas objetivamente e expressas em fórmulas matemáticas. Ele batizou essas características de “genes”, em referência ao código que serve de matriz para a produção das proteínas em todos os seres vivos. Hoje, a equipe de Westergren já analisou mais de 750 mil músicas, avaliadas de acordo com 400 “genes musicais”.
O gosto de Westergren é difícil de avaliar, mesmo para seu sistema sofisticado. “Sou muito eclético. Gosto de tudo, desde Bach e Oscar Peterson até Green Day, e muita música clássica”, diz. Parte da diversidade tem a ver com sua experiência. Ele foi compositor, produtor e músico. Seu instrumento predileto é o piano, mas ele já se arriscou a tocar clarineta, bateria e fagote. Hoje, diz que não tem tempo para tocar. Mas usa na empresa lições de sua banda. “Aprendi a sobreviver num cenário empresarial em mutação. Tudo isso quase sem dinheiro no banco”, afirma.
A espontaneidade de roqueiro não o abandona no trabalho. No início da empresa, numa reunião entre os três sócios com poucos recursos, Westergren conta que eles cogitaram jogar num cassino para ver se duplicavam a modesta quantia acumulada. “Pareceu-nos uma chance melhor de ter sucesso do que a captação de recursos. Mas decidimos, no final, não fazer isso.” Foi uma boa aposta.
Em 2005, seis anos depois da primeira ideia, o genoma de Westergren já alimentava uma rádio on-line, o Pandora. Mas o site demorou para fechar as contas. Só depois de quatro anos no ar, no final de 2009, começou a dar lucro. A principal fonte de dinheiro foi o programa que eles lançaram em 2008 para o iPhone, o celular inteligente da Apple. Esse programa toca a rádio no celular, pela conexão da operadora, e se tornou uma rádio móvel, não mais presa ao computador. “Isso transformou nosso negócio”, diz Westergren. “O iPhone nos fez um serviço presente em qualquer hora e lugar. Agora, temos mais ouvintes pelo celular do que na web.” O serviço cresceu para os celulares de quase todas as marcas. A novidade é o lançamento de uma versão para o iPad, da Apple.
Desde que o Pandora entrou no ar, Westergren enfrenta uma questão prática: como pagar os direitos autorais aos músicos e compositores. “Sei como é difícil viver de música. E estou determinado a construir uma companhia que honre isso”, afirma. O pagamento de direitos autorais quase fez a rádio fechar em 2008, quando os valores exigidos pelas gravadoras triplicaram. Sempre de um jeito simpático e bem-humorado, Westergren decidiu pedir ajuda aos usuários. Ele e a equipe enviaram 4 milhões de e-mails explicando o que estava acontecendo. Os ouvintes fizeram uma campanha maciça, com abaixo-assinado. No fim, a Justiça obrigou as gravadoras a manter os valores cobrados anteriormente. “Foi a pressão dos ouvintes que fez diferença”, diz Westergren.
Hoje, o que o Pandora paga a gravadoras e artistas pela transmissão nos Estados Unidos consome a maior parte do que a empresa ganha pela cobrança do serviço e com anúncios publicitários. No ano passado, esses pagamentos somaram US$ 30 milhões – 60% da receita total. Os direitos autorais também complicam a expansão do negócio. Fora dos Estados Unidos, o Pandora teria de firmar acordos mais caros com as grandes gravadoras. “É desapontador que as gravadoras se recusem a oferecer taxas plausíveis”, afirma Westergren. Por isso, não é possível ao internauta acessar legalmente o Pandora do Brasil. Pelo menos por enquanto.
Fonte Original G1